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Reportagem:

Implante hormonal: muito mais que “chip da beleza”

A insatisfação com a forma física é, cada vez mais, assunto nas discussões cotidianas. Focado na saúde ou simplesmente na estética, o mercado fitness – com suas musas, “musos” e diversos produtos – está em ascensão. Impulsionado por esta tendência, o implante hormonal, criado originalmente como anticoncepcional, tomou nova função por conta dos benefícios estéticos que traz. Na mídia, ele é tratado como o “chip fashion” ou “chip da beleza”. Porém, sua função e os seus diversos benefícios, como método contraceptivo, são pouco difundidos. 


Após cinco anos usando um dispositivo intrauterino (DIU), Débora Marândola, 34 anos, já havia testado diversos anticoncepcionais e outros métodos para tratar o ovário policístico e, mesmo assim, tinha sangramentos diários. Foi quando resolveu procurar algo mais eficaz. Débora já tinha uma rotina de exercícios e alimentação saudável. “Antes [do chip] eu sempre tive essa preocupação, eu faço dieta desde os doze anos de idade. Fui uma criança mais cheinha. Eu tenho aquele traumazinho de infância. Sou bastante disciplinada em termos de atividade física: treino crossfit de segunda a sexta, e aos sábados eu faço um treinamento equivalente a ginástica olímpica”, conta.

O chip conhecido por potencializar resultados da academia é, na verdade, um aliado de mulheres com problemas hormonais. Como muitos procedimentos médicos, o implante hormonal traz benefícios e também efeitos colaterai

Débora Marândola em seu treino de crossfit

Na academia, começou a ouvir histórias sobre um chip que além de amenizar os efeitos do ciclo menstrual, potencializava os efeitos da rotina de malhação. Depois de várias conversas com a nutricionista e idas ao médico, a moça se sentiu segura para colocá-lo. “O que eu tinha na cabeça sobre o chip é que era para quem queria ficar ‘marombada’, aí eu falei que para isso eu não ia querer”, lembra Marândola. Para ela, o objetivo era a saúde e os resultados obtidos fazem com que use o chip há mais de cinco anos. “Muita gente com ovário policístico tem problema com menstruação e o implante acaba resolvendo. Dizem que o próprio chip ajuda a inibir a formação do cisto, porque a pessoa não ovula”, relata. 

“Sou bastante disciplinada em termos de atividade física: treino crossfit de segunda a sexta, e aos sábados eu faço um treinamento equivalente a ginástica olímpica”. Débora Marândola

Trabalhando com o implante há quase 30 anos, Luiz Carlos Calmon Teixeira, ginecologista, deixa claro que o uso não é estritamente estético. “Os benefícios dependerão das necessidades. A finalidade é atingir os objetivos de cada paciente”. Calmon, responsável pelo atendimento de Débora, esclarece ainda que o nome correto é implante subcutâneo. “Chip foi um apelido dado ao produto pelos pacientes”.

É importante ressaltar que não há milagre nos benefícios estéticos que o implante hormonal pode trazer. Segundo Denis Furtado, médico que faz a aplicação do chip em Brasília, é imprescindível manter uma rotina saudável. “Você não vai emagrecer se não fizer uma dieta, se não tiver um controle hormonal e se não tiver os receptores hormonais desobstruídos, sensíveis aos seus hormônios que foram implantados. É necessária uma reeducação de vida, é necessário que você faça toda uma terapia, muitas vezes até a parte emocional”, alerta.


As mudanças mais significativas para Débora foram, realmente, na sua saúde. A moça conta que antes de começar a usar o chip os exames mostravam os cistos e nos mais atuais eles praticamente não aparecem. Quanto à parte física, desde que colocou o implante engordou três quilos “tanto em gordura quanto em massa muscular”. Ela conta ainda que não sentiu aumento na força física, mas percebe uma melhora no tônus muscular.


Apesar de dizer “nunca estar satisfeita com o corpo”, ela acredita que esse é o momento da vida em que está mais perto do corpo que deseja e muito satisfeita com o resultado como um todo.


Para a paciente Mônica Siqueira, 49 anos, o implante teve outra finalidade. Sofrendo com intensas cólicas desde a adolescência, o médico sugeriu que ela interrompesse a menstruação. A sua mãe indicou a clínica de Elsimar Coutinho, médico e farmacêutico baiano, criador do implante hormonal. Mônica leu sobre o médico e viu que poderia ser a solução para suas dores, para a endometriose, e também para ter filhos.

Chip hormonal

Na clínica, ela também foi atendida por Luiz Calmon, assistente de Elsimar, que realiza atendimentos em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. “Eu usei o implante por quatro anos, reaplicando anualmente. Na época que comecei o tratamento eu tinha 35 anos e começava a ter baixas hormonais, mas nada tão significativo. Além da dor, a principal razão foi postergar as chances de ter filhos e graças a essa interrupção eu pude ter a Gabriela aos 40 anos”, declara.

 
Quanto a usar o chip para fins estéticos, Mônica desconhecia essa tendência dos últimos anos e não demorou a responder que colocaria o chip para melhorar o corpo. “Agora, depois dos 45, usaria sem dó. Mas meu pensamento não é ficar com corpo de menina de 15 anos, quero manter o peso ideal para minha estrutura óssea e não ficar obesa. Isso sem pretensão de ser o que não sou”, finaliza

Mônica e a filha Gabriela: maternidade aos 40

Sobre o Implante

O implante é composto por um segmento de tubos de silicone semipermeáveis, cuja medida varia de 4 a 5 cm. Ainda segundo Calmon, o implante é apenas um veículo para aplicação de uma substância. Ele é feito de silicone para esta finalidade de uso e o que vai variar é a dose ou substância que é colocada dentro dele. “Vai depender da indicação, da necessidade de cada paciente”.

 
O método que ele utiliza para aplicação faz uso inicialmente de um anestésico na região glútea, local onde é colocado, e, em seguida, com uma agulha especial, são inseridos ou retirados os tubinhos de silicone. “Não é necessário corte com bisturi nem pontos após aplicação ou retirada”, explica.


Aplicando de também na região glútea, mas com uma técnica diferente, Denis Furtado diz que não basta que o médico entenda de modulação hormonal, saiba calcular os hormônios e identifique as necessidades do paciente.  “[O médico] também tem que ter uma mão cirúrgica para colocar o implante. Eu coloco a nível glúteo e com uma cicatrização mínima. São somente dois pontos. É um procedimento simples, ambulatorial, que dura cerca de 15 minutos. Em até um ano ele é absorvido e some completamente”, diz.

O médico Luiz Calmon com o implante hormonal

Normalmente, o paciente retorna ao médico em um ano para reposição. Débora Marândola, conta que neste retorno o médico avalia os resultados obtidos e se a próxima aplicação deve ser modulada com uma combinação hormonal distinta ou mantida.

É importante salientar que hormônios podem ser receitados por via injetável, oral, ou até sublingual. O implante é uma alternativa subcutânea, que tem a vantagem de ser de longa duração e permitir ao médico evitar picos e quedas hormonais. É modulado conforme a necessidade do paciente e as substâncias são liberadas na corrente sanguínea com segurança e de forma gradual.

Tipos de Implante

Hoje há no mercado dois tipos de hormônios que podem ser incorporados ao implante: sintéticos e bioidênticos - idênticos aos hormônios naturais. Defensor do uso de hormônios bioidênticos, Furtado não indica os sintéticos. “Eu não recomendo porque ele apenas vai mascarar, e enganar o organismo castrando alguns hormônios. Hormônio sintético já é ‘efeito colateral em pessoa’, porque ele não é próprio para o nosso corpo”. Porém os hormônios bioidênticos não servem para contracepção e nestes casos ele inclui a gestrinona “Na verdade, ela é um fármaco, não um hormônio e ela é feita para o mesmo fim”.

Luiz Calmon faz uso de cinco substâncias: estradiol e testosterona (biodênticos) e nestorone, nomegestrol e gestrinona (sintéticos). Estes três últimos são contraceptivos e “sempre são sintéticos, pois não existem anticoncepcionais bioidênticos. Todos são aprovados para uso pela Anvisa”, afirma o médico. A escolha do contraceptivo varia conforme a necessidade da paciente: nestorone e nomegestrol são simples e a gestrinona tem efeito androgênico ou anabolizante, próprio para quem deseja potencializar os efeitos da atividade física. Olhando para o quesito saúde, Luiz diz que “o nestorone e a gestrinona tem como indicação médica o bloqueio do ciclo menstrual por presença de algumas patologias como endometriose, dismenorreia ou TPM e os de testosterona e estradiol para reposição hormonal do climatério e em alguns casos de mulheres jovens”.

“Hormônio sintético já é ‘efeito colateral em pessoa’, porque ele não é próprio para o nosso corpo”. Denis Furtado

As mulheres que procuram o procedimento têm perfis e intuitos variados. Débora Marândola observou, em suas visitas à clínica, que as pacientes são “desde meninas de 16 anos a mulheres de 40 anos; de magrinhas a mulheres super saradas, tem de tudo”.

Efeitos Colaterais

Tanto Luiz Carlos Calmon como Denis Furtado reconhecem que o uso do implante pode trazer efeitos colaterais. “Todos terão algum efeito indesejado, mas que pode ser minimizado. Assim é com todos os métodos contraceptivos e tratamentos hormonais”, diz Calmon. Para Débora, as mudanças negativas vieram há três anos quando incluiu a testosterona na modulação hormonal. Entre elas, estão pelos no rosto, oleosidade da pele e a que mais incomodou: a voz ligeiramente mais grossa.

Custo

O preço do implante varia bastante. Depende dos hormônios utilizados e das suas quantidades. Segundo Denis Furtado, alguns implantes custam por ano R$ 3.000,00, mas alguns mais completos podem chegar a três vezes este valor. Os valores indicados por Luiz Calmon são mais acessíveis, variando entre R$ 1.000,00 e R$ 5.000,00 também anuais. 

Ainda assim, Débora e Mônica – usuárias do chip – indicam o uso. “Recomendo muito pelo fato de ter me possibilitado ser mãe aos 40 anos. Sou defensora do uso de qualquer artifício que justifique bem-estar”, diz Mônica. Ela ainda faz um alerta para que cada pessoa procure entender e verificar a necessidade e os riscos de cada caso. Para Débora, “vale a pena, com certeza. Em termos de custo-benefício para a mulher é excelente”.

21 de novembro de 2016

Denis Furtado, médico que aplica implantes em Brasília, defende o uso de hormônios bioidênticos

A Razão de ser deste blog: 

O “Corpo que Sou” é um blog criado por quatro alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário IESB de Brasília-DF. Nosso intuito é postar matérias sobre a busca de um corpo perfeito e discutir questões sobre a subjetividade dos referenciais de beleza, bem como sua relação com uma vida saudável.

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